Casa Vicina: o retorno elegante de uma lenda gastronômica a Ivrea

Há histórias que o tempo não apaga — apenas amadurece. E poucas são tão impregnadas de tradição, afeto e excelência quanto a da família Vicina, que agora escreve um novo capítulo ao retornar a Ivrea, sua terra natal, após vinte e dois anos.

O que começou, em 1902, como uma pousada com troca de cavalos, erguida por Pietro Vicina Mazzaretto, transformou-se, ao longo de mais de um século, em uma das referências mais respeitadas da culinária piemontesa. Um legado passado de geração em geração, temperado por hospitalidade, inovação e uma fidelidade comovente às raízes.

De uma pousada acolhedora ao estrelato gastronômico

Na virada do século XX, Ivrea era apenas um ponto de parada para viajantes — mas Pietro Vicina enxergou ali algo maior: um refúgio para o corpo e a alma.
Seu filho Alessandro, ao lado de Amelia, expandiu o sonho. Décadas depois, Roberto e Bruna deram continuidade à saga familiar com a abertura de La Gria em 1968 — um restaurante pioneiro em grelhados e espetos, antevendo tendências que hoje definem o cenário gastronômico contemporâneo.

Em 1980, nascia a Casa Vicina, um nome que já trazia em si o conceito de acolhimento íntimo e familiar. Um espaço onde cada prato era preparado como se fosse para um velho amigo, e cada refeição, uma celebração da vida à mesa. Sob o comando de Stefano e Claudio, com Anna Mastroianni, a Casa consolidou-se como sinônimo de cozinha piemontesa refinada, ganhando prestígio, prêmios e, sobretudo, corações.

O fascínio de Turim e os anos de expansão

Em 2003, a família decide seguir um novo rumo — rumo a Turim, então em plena transformação pré-olímpica. “A cidade fervilhava de possibilidades”, recorda Claudio Vicina. “Era um tempo de entusiasmo e incertezas, mas crescemos com ela.”

Primeiro no Hotel Boston, depois no Eataly Lingotto, e, mais tarde, no Green Pea, a Casa Vicina elevou sua cozinha à categoria de experiência sensorial e sustentável. O restaurante tornou-se um templo para os amantes do sabor autêntico e da elegância despretensiosa, mantendo viva a essência do que sempre os distinguiu: a verdade no prato.

Mesmo durante os anos desafiadores da pandemia, o espírito Vicina permaneceu intacto. “Quando descemos a Turim éramos três, agora somos sete, com quatro filhos — a quinta geração já está conosco”, diz com orgulho. Laura, Silvia, Stefano e Alessandro representam não apenas o futuro da Casa, mas a continuidade de um nome que há 120 anos refina a arte de receber.

O retorno a Ivrea: onde tudo começou

Agora, o ciclo se completa. O convite para assumir o catering do Boutique Hotel 3T, um eco-hotel quatro estrelas em Ivrea, reacendeu o desejo de voltar às origens. “Gostamos da ideia de diversificar o trabalho, mas dentro de uma visão de futuro”, explica Claudio.
Além do restaurante, o novo projeto contempla bar, serviço de eventos e catering — tudo com a elegância discreta e a hospitalidade característica da Casa Vicina. O restaurante manterá cerca de quarenta coberturas, em uma atmosfera íntima e sofisticada, ideal para quem busca experiências autênticas e memoráveis.

Tradição que se renova a cada prato

A proposta culinária seguirá a linha da fine dining contemporânea, mas com toques de simplicidade piemontesa e opções de almoço executivo elegante, voltado para o público de passagem por Ivrea. “Estamos prontos — ainda que o coração bata mais rápido”, confidencia Claudio.

Enquanto os preparativos seguem intensos — entre eventos, trufas e festas de fim de ano —, a expectativa cresce para a inauguração, prevista para o início de janeiro. A Casa Vicina deixará o Green Pea com a mesma elegância com que chegou, carregando não apenas malas e vinhos, mas histórias, afetos e sabores que atravessam gerações.

Entre seus clássicos, o icônico Bagna caoda da bere — símbolo da casa — promete reencontrar seu público em um cenário que combina nostalgia e inovação. Talvez surja, quem sabe, uma nova assinatura culinária para marcar o renascimento em Ivrea.

Porque, na Casa Vicina, cada retorno é um recomeço.
E cada prato, um elo entre passado e futuro.

Casa Vicina — Onde a tradição se renova com alma.
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